"É sempre melhor prevenir do que remediar", a abordagem a uma ameaça pandémica

Prof. Doutor Luís Bronze
22/07/22
"É sempre melhor prevenir do que remediar", a abordagem a uma ameaça pandémica

"A hipertensão arterial (HTA) continua a ser o fator de risco mais prevalente no espectro cardiovascular, atingindo 40 % dos adultos em Portugal." Palavras do Prof. Doutor Luís Bronze sobre a patologia que considera ser uma "ameaça" com dimensões "pandémicas". Leia a opinião do especialista.

Trata-se de uma doença fisiologicamente associada ao envelhecimento, mas cada vez mais presente em idades mais jovens. Sabemos que predispõe às manifestações cardiovasculares mais graves e principais causas de mortalidade em Portugal, na Europa e, porque não dizê-lo, no mundo atual. De entre estas, destacam-se o acidente vascular cerebral (AVC) e o enfarte do miocárdio.

Sabemos também, que, entre nós, e mesmo nos recentes dados de mortalidade de 2020, as doenças do foro cardiovascular continuaram a ser a principal causa de mortalidade, superando a mortalidade por doenças neoplásicas (…o temido cancro), ou por COVID-19 – cuja prevenção tanto custou ao país. Devemos, também, ter em conta que, mesmo quando não são fatais, as doenças cardiovasculares são causa major de incapacidade definitiva. Este é o caso do incremento da prevalência de insuficiência cardíaca – síndrome crónica, fortemente associada a incapacidade e relacionada, também, com a HTA.

Os fatores potenciadores para a HTA são sobejamente conhecidos. Em Portugal, destacamos o consumo de sal e a obesidade, sendo que esta última entidade tem crescido de forma avassaladora, potenciada, como se reconhece, pela inatividade imposta pela pandemia. O incremento geral do peso da nossa população tem relação direta com o incremento de hipertensão. A pandemia, por outro lado, foi também responsável pelo afastamento dos doentes dos seus médicos e, acreditamos, pela maior dificuldade no controlo desta doença crónica. Este é um dos grandes desafios do presente, no que diz respeito ao nosso sistema de saúde: a recuperação das consultas em atraso – no que às doenças não-transmissíveis diz respeito – especialmente das pessoas com hipertensão.

Outro desafio bem conhecido ,desde há muito, é a deficiente adesão à terapêutica nesta entidade. As razões para isto são múltiplas. Por um lado, muitos doentes são ainda tratados com esquemas terapêuticos complexos (implicando múltiplas tomas), ao contrário do uso, recomendado em todas as guidelines internacionais, de comprimidos de combinação de vários princípios ativos, facilitando a toma única (apenas um comprimido por dia). Por outro lado, e não menos importante, existe a desvalorização do risco a longo prazo imposto pela hipertensão, que é uma doença silenciosa. Isto é, a evolução da doença é tal, que as manifestações mais graves, podem ser as primeiras manifestações da doença.

Ora em face destas questões, a Sociedade Portuguesa de Hipertensão dedicou, neste ano, as celebrações do Dia Mundial da Hipertensão ao imperativo que é reforçar a adesão à terapêutica, especialmente depois das restrições impostas pela pandemia. É, de facto, imperativo reduzir o risco imposto pela hipertensão. É imperativo que cada hipertenso, seja conhecedor da sua doença e do que há a fazer para reduzir o risco a ela associado.

A boa notícia é a de que a doença hipertensiva tem uma evolução longa e, sim, tem muitas oportunidades de intervenção. A redução do risco está ao alcance de todos. Basta saber que, na verdade, o seu diagnóstico e tratamento são acessíveis. Estamos perante um dos casos em que um maior esforço preventivo, evitará muito sofrimento e, claro, sabemos todos, é sempre melhor prevenir do que remediar…Este é, na realidade, o desígnio maior da Sociedade Portuguesa de Hipertensão…

É um labor contínuo, feito, ao longo de gerações, com forte paixão…. Assenta no esforço voluntário de muitos, na formação de profissionais de saúde e de doentes. Todos precisam de saber que a terapêutica assenta sempre numa mudança de estilo de vida. Num olhar “para si”, que permitirá controlar esta ameaça, que já apresenta dimensões pandémicas.

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