Paralisia cerebral associada a gravidezes tardias, sem assistência e prematuridade

16/01/25
Paralisia cerebral associada a gravidezes tardias, sem assistência e prematuridade

Um estudo realizado entre 2001 e 2015, envolvendo 2.700 crianças, identificou os principais fatores de risco para a paralisia cerebral (PC) em recém-nascidos em Portugal. O relatório do Programa de Vigilância Nacional da Paralisia Cerebral (PVNPC) conclui que a prematuridade, a falta de assistência médica adequada durante o parto e a gravidez em idade tardia são os principais responsáveis pelo aumento do risco de PC no país.

De acordo com os dados, o risco de crianças nascidas em Portugal desenvolverem PC manteve-se estável durante o período do estudo, com uma taxa de 1,7 casos por 1.000 nados-vivos. Daniel Virella, coordenador do PVNPC, explicou que a PC é frequentemente detetada logo ao nascimento, mas a notificação formal ocorre apenas aos cinco anos, com o objetivo de realizar uma vigilância populacional mais precisa. Nesse estágio, é possível distinguir entre lesões estáticas, que indicam PC, e situações de agravamento progressivo.

O estudo mostrou que as crianças nascidas prematuras enfrentam um risco significativamente maior de PC, especialmente as que nascem com menos de 28 semanas de gestação. Já as gravidezes em idades mais avançadas também são um fator de risco, com as mães com mais de 44 anos a enfrentar um risco três vezes maior de ter filhos com PC. Em comparação, mães com menos de 20 anos apresentam um risco 30% superior.

Outro dado relevante do estudo aponta que os partos sem assistência médica adequada aumentam o risco de PC em até 12 vezes, embora essa situação seja relativamente rara em Portugal. Além disso, o relatório observa que fatores como o nascimento do primeiro filho, o sexo masculino e a presença de malformações congénitas, também estão associados a um maior risco de desenvolvimento de PC.

A pesquisa ainda revelou um aumento no diagnóstico de PC relacionado a acidentes vasculares cerebrais (AVC), especialmente nos períodos pré e perinatal, com a taxa de diagnósticos duplicando entre 2001 e 2015. Além disso, 8 % das crianças diagnosticadas com PC tiveram a condição como consequência de um evento pós-neonatal, como infeção ou complicação de intervenção clínica.

A análise também identificou que a privação socioeconómica é um fator relevante no risco de PC. Em regiões com maior privação, o risco de paralisia cerebral foi estimado em 25 % mais alto. A privação socioeconómica foi medida através do Índice de Privação Europeu, que avaliou as condições de vida das mães no momento do nascimento.

O relatório, intitulado "Paralisia Cerebral em Portugal no Século XXI. Risco e Funcionalidade", será apresentado oficialmente no próximo dia 21 de janeiro, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. O PVNPC destaca ainda a importância da implementação de um registo nacional de casos de hipotermia induzida, uma técnica usada no tratamento de asfixia perinatal, que poderá contribuir para um melhor entendimento dos fatores de risco relacionados à PC.

Este avanço no conhecimento e na monitorização dos casos de PC é fundamental para melhorar a prevenção e o acompanhamento das crianças afetadas por essa condição.

Fonte: Lusa

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